Era uma estação de trem em algum ponto da Europa, onde o tempo parecia girar em outra frequência. O cheiro era de metal frio e café forte. As placas tinham direção sem sentido, com letras que dançavam num idioma que meus olhos não reconheciam.
Enquanto pessoas passavam apressadas com a precisão de quem sabia para onde ia. Eu não fazia muita ideia de onde estava. Era como estar no meio de um mapa dobrado ao avesso.
Naquele enigma linguístico e geográfico, eis que surge uma liberdade estranha, quase poética, de estar completamente desconectada de certezas, de GPS e de planos. Pedi ajuda a uma senhora que não falava uma palavra que eu conhecesse, mas me sorriu com os olhos e apontou um caminho. E ali, entre gestos, intuição e gentileza silenciosa, reencontrei um tipo raro de confiança: aquela que nasce quando um viajante se entrega ao mundo.
Foi ali, perdida entre trilhos e idiomas, que eu me encontrei.

Uma jornada de autoconhecimento, liberdade e transformação na estação de trem
Vi esta foto no meu álbum de viagem, e deixa eu te contar um pouco do ” Travel Behind the Lens”.
Nessa época nasceu o desejo de criar o Travel Behind the Lens, meu segundo blog (que está fora do ar!). Queria escrever sobre memórias de viagem, contar histórias reais com poesia, significado, transformação. Convidei o marido e o mano pra sonharem comigo, e culpei os dois pelo MEU SONHO não ter dado certo. E falo meu, porque tinha que ser do meu jeito…mas eles tinham que ajudar. Seja com as fotos, com a edição ou com várias outras coisas, que eu sonhava, mas não queria fazer, porque meu sonho no fundo, era viajar e não fazer da viagem um trabalho!
Eu também queria escrever em inglês, me comunicar com o mundo… mas no fundo, eu sempre achava que falava um “tupiniquim globalizado” que não se encaixava. Ainda assim, eu seguia. Porque ser do mundo pra mim era isso – tropeçar nos idiomas, mas acertar no coração.
Naquela época, eu tinha acabado de passar por um layoff – do emprego que paga as contas, sabe?! E antes de vir aquela fase de luto que a gente se revolta com a empresa e com o mundo, eu estava numa fase muitoooo feliz, porque sentia que era o momento que eu podia escolher meu próximo destino. Eu tinha uma graninha, a casa era alugada, era o momento perfeito! Portugal era a viagem inicial, uma daquelas promoções relâmpago… e, claro, deu tudo errado! Uma tempestade por lá cancelou nossos planos do lado de cá, mas abriu caminho para algo muito maior. Mudamos o roteiro e foi quase um mês de descobertas, começando por Budapeste e terminando na Holanda, incluindo todos os países “que cruzaram” nosso caminho.
De repente, me vi ali em frente ao painel girando com destinos, letras e nomes que eu nem sabia pronunciar. Juro, eu só entendia Viena no painel, ou melhor, Wien, em alemão! E mesmo assim, me senti em casa! Aquela estação era meu mundo naquele momento. Eu olhava aquele lugar e pensava “Quero fazer isso pra sempre”!
Meu look novo, exibia o casaco dos sonhos, que comprei no caminho e usei a viagem inteira, porque não cabia na mala. Aliás, eu estava orgulhosa de estar viajando leve (pouca roupa para usar, nenhuma satisfação pra dar). Dá pra acreditar no tamanho desta mala?!
Não ter mais um emprego foi aquele clássico chute na bunda que te joga pra frente, sabe? E estar ali, naquela estação, foi o maior sinal de que eu não queria mais voltar pra uma vida que não me cabia, eu queria ser do mundo. <3