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Como consegui trabalhar em uma empresa top no Vale

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Você sonha em vir para o Vale do Silício para trabalhar para uma empresa como Apple, Google e Facebook? Mora no Vale e ainda não conseguiu um emprego na área “tech” em uma empresa de grande porte? Então confira esta entrevista da recrutadora Rebeca Gelencser com uma profissional brasileira que deixou o Brasil há 12 anos e conta sua experiência de como conseguiu trabalhar na Apple. 

Como consegui trabalhar na Apple

Infinity Loop no Campus da Apple
Infinity Loop – Campus da Apple em Cupertino

Quando esta profissional chegou aos EUA, ela já tinha 4 anos de experiência de trabalho no Brasil e o diploma de Bacharel em Ciências da Computação. Logo que ela chegou no Vale começou a estudar, se especializou em Gerência de Projetos, Operações de Inteligência e em “Cybersecurity” e hoje é Engenheira Senior de Computação na Apple. Esta é a entrevista onde ela compartilha sua jornada.

Entrevista com a Engenheira Senior na Apple

Rebeca: Por quê “Cybersecurity”? Essa é uma área mais em demanda no Vale do Silício ou foi somente uma preferência sua?

Resposta: Cybersecurity é uma necessidade não só no Vale do Silício, mas no mundo todo. Nos anos 70, houve uma grande motivação para o uso da Internet como meio de comunicação e nos anos 80 começamos a ver grandes resultados dessa evolução com o uso comercial de laptops, computadores pessoais, telefones celulares, etc. Tudo isso foi inventado sem muita ênfase em segurança. A Internet foi inicialmente desenvolvida pelo militarismo Americano durante a Segunda Guerra Mundial motivado pela necessidade de comunicação e as Universidades Americanas aprimoraram o serviço de conversa ponto-a-ponto, mas tudo isso sem priorizar a segurança. Existiam, e ainda existem, vulnerabilidades no uso da Internet. Por exemplo: desligar o javascript do browser pode trazer vulnerabilidades sérias ao código. Outro exemplo é intercepção. As conversas podem ser facilmente interceptadas no DNS – Domain Name System durante uma comunicação de um ponto A para o um ponto B. Hoje em dia, a evolução da tecnologia, a necessidade de se proteger contra o roubo de identidade, a prevenção de atos terroristas e cyber espionagem, tornaram “cybersecurity” não apenas um luxo, mas uma necessidade vital para todos os ramos da tecnologia. Isso abrange os setores médico, militar, comercial, político, universitário, económico, financeiro, transporte, produção, etc.

Rebeca: Qual o conselho que você daria para um profissional de Ciência da Computação que se formou no Brasil?

Resposta: Eu sempre parti do princípio que eu tinha que escolher algo único, algo que poucas pessoas faziam. No Brasil, quando trabalhamos com Informática, nós somos incentivados a primeiro trabalhar na nossa área e a ter muitos anos de experiência em teste e depois a passar para a área de desenvolvimento, depois design, análise e somente depois de muitos e muitos anos de experiência, ter a chance de trabalhar com gerência de projetos. Eu sempre fui contra essa ditadura e achava injusta essa regra imposta pela sociedade e gerentes de empresa. Nós temos que ser os donos das nossas carreiras. Não podemos deixar pessoas de fora dominar e determinar qual caminho vamos seguir. Temos que trabalhar com os nossas “strengths” (pontos fortes), com aquilo que sabemos que fazemos bem, e gostamos de fazer, independente de regras.

Todos podem ser excelentes gerentes de projeto dentro de seus times, todos podem ser excelentes designers, analistas e programadores. Nós é que devemos impor os nossos próprios limites. O meu conselho principal é: tenha opinião própria, siga a sua intuição, o seu coração, e não aceite tudo o que tentam impor a você. Desafie o “status quo”, questione, pergunte o “por quê”, não se sinta satisfeito com respostas incompletas, vagas, e sem base concreta.

Os grandes homens do mundo como Martin Luther King, Steve Jobs, Albert Einstein, Nelson Mandela e muitos outros questionaram o sistema, e não aceitaram o que a sociedade lhes impuseram. Eles lutaram contra o sistema e no final valeu a pena. Grandes visionários sofrem e pode demorar, mas eles acabam fazendo a diferença não só para si próprios, mas para toda uma geração. Confie no que você acredita ser certo e tenha opinião própria sobre aonde você quer chegar pessoalmente e profissionalmente. Mesmo que pareça difícil, tudo é possível com determinação, diligência, dedicação e muitos, muitos sonhos altos. Era impossível para mim, muita gente me desencorajou e me criticou por eu ter ideias “revolucionárias” e por não seguir as regra.

Hoje, minha carreira demonstra que ser revolucionário não é um defeito e sim uma virtude. Não podemos nos limitar ao Brasil. Temos sim que buscar novos horizontes e aprender com os melhores, mesmo que isso nos leve a sair do Brasil e a abraçar outra cultura, outros costumes. O mundo pertence aos revolucionários, aos que questionam. O mundo não pertence aos que aceitam as regras!

Outro desafio que existe não só no Brasil, mas também no Vale é que a área de computação é um ambiente predominantemente masculino. Sheryl Sandberg, Executiva do Facebook, explica em seu livro “Lean In” sobre os desafios da mulher no mercado de trabalho Americano e também no Vale do Silício. 

Rebeca: Qual área o profissional tem que desenvolver rapidamente antes de pensar em se mudar para o Vale? Existe alguma coisa que possa ser feito antes mesmo de vir aos Estados Unidos para se preparar melhor para o mercado local? Algum programa, alguma nova tendência que possa trazer uma vantagem competitiva quando a pessoa chega no país?

Resposta: A tecnologia muda muito a cada dia. As empresas de tecnologia hoje criam as suas próprias linguagens. Antigamente Java era o segredo, mas hoje em dia não é mais. Saber Java é bom, afinal Java foi o que me trouxe até aqui. Mas a Google por exemplo, não usa Java. Eles usam Python, entre outras linguagens mais nativas. Eu diria que o mais valioso é saber algumas linguagens de programação básicas como Java, Python e Swift, mas o fundamental é entender bem os conceitos e saber criar sua própria linguagem de programação. É isso o que eles esperam dos Engenheiros aqui no Vale. Mostrar versatilidade, flexibilidade e criatividade é fundamental! “Agile Development”, por exemplo, é definitivamente algo muito explorado aqui, mas isso é apenas uma metodologia que depende muito da natureza do time.

Você não vai conseguir um emprego aqui apenas porque tem no CV um diploma em uma determinada tecnologia. No Vale, eles procuram saber da sua experiência e querem entender o que você pode oferecer, independente do seu diploma. Isso é bem diferente no Brasil. No Brasil buscamos funcionários com diplomas de faculdades renomadas. No Vale do Silício buscamos pessoas que são fenomenais em sua área, que dominam completamente um assunto, independente da faculdade, curso ou diploma.

Conheço alguns Engenheiros excelentes que nem tem curso superior. O próprio Steve Jobs da Apple e o Mark Zuckerberg do Facebook não terminaram suas faculdades. Isso fala muito sobre a cultura do Vale. Claro que se você mora no Brasil, e está tentando se inserir no mercado de trabalho no Vale, é um “plus” ter qualificações e especialização, mas isso não é tudo. O que define mesmo se você vai conseguir um trabalho no Vale do Silício é seu desapego à regras e títulos. É preciso arregaçar as mangas, e estar disposto a por a mão na massa! É preciso muita energia e garra. É realmente uma questão de atitude, juntamente com conhecimentos técnicos, metodologias e diplomas. O Vale é um lugar interessante de se trabalhar pois é muito dinâmico, muda  rapidamente e de forma muito agressiva. Se dá bem aqui quem está preparado e se adapta facilmente ás mudanças.

Rebeca: Existe algum curso online que possa ser feito antes mesmo de mudar-se para os Estados Unidos que pode fazer a diferença no CV de um profissional de tecnologia? Alguma coisa dê para estudar no Brasil para ganhar tempo e para chegar mais preparado para o agressivo mercado de trabalho do Vale?

Resposta: Sim. Existem vários cursos online que podem ser feitos nas Universidades da Califórnia. É importante termos uma atitude de constante aprendizado com os Americanos e estar aberto à diversidade cultural. Uma formação brasileira não tem o mesmo impacto no currículo, que uma Universidade americana. No meu caso, assim que cheguei na Califórnia, fiz um programa de Gerência de Projetos na Universidade de Berkeley. Isso me ajudou a demonstrar que eu tinha um pouco de experiência no mundo acadêmico Americano. Como os processos são diferentes nos EUA, é importante estar informado sobre como os projetos funcionam aqui. Fazer um curso online antes de vir para os EUA, é muito valioso. Existem cursos técnicos online também nas áreas de programação, segurança, Agile Development, UI design, etc. Universidades como a UC Davis, Stanford, Santa Barbara, UMass, Harvard, oferecem esses cursos. Hoje em dia, existem milhões de programas online para estudantes internacionais que você pode explorar.

Rebeca: Você acha que o profissional brasileiro pode focar primeiramente em “Consulting Firms”  como Deloitte, PwC, Accenture, entre outras, para depois conseguir um emprego em uma empresa como a Apple, Google, Facebook? Na sua opinião, esse pode ser o caminho das pedras?

Resposta: Depende. A preferência de muitos é conseguir entrar nas grandes empresas, mas é difícil… É difícil entrar, e conseguir ficar é mais ainda! Na minha opinião, o importante é estar aberto para empresas de consultoria primeiro, pois elas vão te dar o preparo que você precisa para entrar em uma grande empresa “tech”. Mesmo se você tem um emprego muito bom no Brasil, é importante estar informado sobre as expectativas salariais no exterior. Devido à transição e por estar começando uma carreira no exterior, o seu salário aqui pode não ser o mesmo. Inicialmente, você vai ter que construir o seu currículo de experiência de trabalho no Vale. Depois de se adaptar em um empresa de consultoria você vai se sentir preparado para transicionar para as maiores empresas de tecnologia do Vale, como Google, Apple e Facebook. Essa foi a trilha da minha carreira nos EUA. Trabalhei 9 anos com consultoria, inclusive para o Google, mas só recentemente me senti preparada o suficiente para trabalhar na Apple como Engenheira Senior.

Leia também: 5 dicas para quem quer trabalhar no Vale do Silício

Este artigo foi escrito pela recrutadora brasileira, Rebeca Gelencser que juntamente com a Joana Scharinger ajudam profissionais com a transição de carreira, oportunidades de trabalho, construção do currículo e treinamentos para entrevistas. Saiba mais através do International Career Advisors.

Joana Scharinger – é psicóloga e recrutadora, com mestrado no Brasil em Psicologia Clínica, e mestrado nos EUA em Recursos Humanos.
Rebeca Gelencser – é Career Coach e recrutadora, com mestrado na Suíça em Ação Humanitária e Pós- graduação nos EUA em Gerenciamento de Recursos Humanos.

Obrigada pelas dicas Rebeca!

Waldana
Waldana
Inspirada por uma das lições mais valiosas do Vale do Silício: dê o seu melhor que a vida retribui, resolveu juntar sua experiência no segmento educação internacional, seu amor por viagens e seu entusiamo por novos negócios criando o blog para compartilhar um pouco de tudo que sabe e aprende todos os dias.

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